RES: [AF] se trabaja en AF

Wellington Barros da Silva wbarros en ucb.br
Sab Jun 14 19:56:38 CEST 2008


Bravo Eduardo !
Estou de acordo com você.
A prática da Atenção Farmacêutica exige sem dúvida conhecimento, experiência, intuição, sensibilidade, interpretação, relacionamento interpessoal, no complexo processo de cuidado de pessoas contextualizadas do ponto de vista biológico, emocional, social, cultural e histórico; num ambiente real onde esta prática convive com as incertezas, com o erro, com a dor e o sofrimento característicos do adoecimento; ou seja, com todos os elementos objetivos e subjetivos que correspondem ao produto das relações humanas.
Verdadeiramente nossa geração e outras gerações que nos pecederam não foram formadas com esta perspectiva...O problema portanto é de natureza complexa...
Certamente encontraremos nos teóricos da sociologia das profissões alguns elementos para entender a dinâmica que constitui a gênese, desenvolvimento e, incluso, o esgotamento de um modelo profissional. As profissões, assim como os medicamentos, nascem e morrem, por que uma profissão é um fenômeno social que surge em conseqüência da divisão social do trabalho num determinado modelo econômico para atender à demandas da sociedade.
Hepler, e todos os autores que intentaram discutir os rumos da profissão farmacêutica nos Estados Unidos há pelo menos duas décadas recorreram ao referencial de sociólogos como Starr, Larsen, Freidson, entre outros para compreender este processo. Há uma excelente percepção disto em "Unresolved issues in the future of pharmacy. Am J Hosp Pharm., v. 45, n. 5, p. 1071 - 1081, 1988; "The Third Wave in Pharmaceutical Education: the clinical movement." Am J Pharm Ed, v. 51, p. 369 - 385, 1987 e, principalmente "Pharmacy as a clinical profession". American Journal of Hospital Pharmacists, v. 42, p. 1298 - 1306, 1985. Em síntese, uma profissão precisa de um núcleo mais fechado de conhecimentos (a que designamos de corpo esotérico), mas também ela se constituí de um círculo exotérico, que marca pontos de interface e de comunicação com outras profissões e inclusive com grupos sociais de leigos (os pacientes por exemplo). No caso das profissões sanitárias, no espaço do círculo exotérico é construída uma linguagem comum e processos compartilhados de cuidado ao paciente. Isto é necessário para o estabelecimento de relações de identidade e de "solidariedade" interprofissional. A palavra solidariedade aqui significa que numa determinada área há conhecimentos tácitos, linguagens, simbologias, comportamentos que são compartilhados, mesmo que inconscientemente por corporações profissionais que atuam no mesmo campo (tem similaridade de objeto, o processo saúde-doença por exemplo e o cuidado ao paciente)...Quanto mais afastado deste circulo exotérico, mas afastado do campo está uma determinada profissão e se torna frequentemente quase que incomprrensível para as outras corporações entender (e mesmo aceitar) aquele grupo como um grupo profissional, ou então assimilar sua ideologia e seu discurso profissional...
Por outro também os leigos, os pacientes, a sociedade têm dificuldade para perceber a relevância de uma profissão que não conta com a "solidariedade" de outras corporações...
Creio que a Farmácia é uma destas profissões que construíram historicamente um preocesso mais hermético (uma análise histórica, e na Espanha há excelentes historiadores da profissão, parece fortalecer essa tese)...
Ainda mais: pressões de ordem econômica, como o que agora está em curso no seu país; transformações drásticas no modo de produção com a assimilação da tecnologia criaram para as clássicas profissões liberais o dilema da reprofissionalização ou extinção.
Reprofissionalizar aqui significa repensar profundamente sobre algumas questões:
Há necessidades ou demandas reais, percebidas pela sociedade e pelo Estado, não atendidas por outro grupo profissional e que constituem objeto do corpo esotérico da Farmácia ?
Há identidade entre o atendimento dessas demandas e o discurso, a ideologia, enfim a missão da prática profissional da Farmácia ?
Os membros que fazem parte da corporação (os farmacêuticos), na sua imensa maioria, têm esta percepção, identificam estas necessidades e aceitam assumir a responsabilidade por esta missão ?
 
Entre os passos seguintes, encontra-se a necessidade de estruturar um projeto profissional hegemônico (pois haverá durante algum tempo diferentes projetos de profissão competindo entre si dentro da corporação, isto é natural, visto que há matizes da ideologia profissional e até mesmo models incongruentes). Tal projeto tem seus desafios:
1) do ponto de vista epistêmico: reposicionar e redefir o objeto do conhecimento e da prática profissional, o que também implica desenvolver investigação sobre a prática...
2) do ponto de vista sociológico: restabelecer os laços corporativos, de unidade e de controle sobre o exercício profissional, o que significa delimitar procedimentos, atribuições de que pode e como pode exercer a profissão...; estabelecer as condições de aproximação do corpo esotérico com outras categorias profissionais e com grupos de leigos; desenvolver um projeto de formação de novos profissionais e de desenvolvimento profissional para os farmacêuticos que já fazem parte do mundo do trabalh (o que chamamos de educação continuada). Estabelecer padrões de prática e de formação;
3) do ponto de vista político: resultado do desenvolvimento do item anterior, implica na organização e fortalecimento de Associações, Sociedades técnico-científicas e profissionais, órgão colegiados que serão os responsáveis por fazer a interlocução com a sociedade civil (ONGs, entidades que representam os pacientes, associações que representam outras profissões, partidos políticos...) e com o Estado, com o objetivo de influenciar e consolidar um protagonismo que dê visibilidade e sustentabilidade para a profissão (cabe lembrar que nas sociedades ocidentais, o Estado tem um papel regulador às vezes mais preponderante no estabelecimento da autonomia profissional do que a própria sociedade)...
 
Não é tarefa fácil, que não pode ser comletada em uma geração apenas...Nossa profissão tem um longo e lento processo de desenvolvimento. Fatores internos, mas também externos condicionaram e continuam condicionando nossa história...
 
Mas vários passos já foram dados...Agora acabo de concluir uma pesquisa sobre Indicação Farmacêutica em Farmácias de uma cidade do centro-oeste do Brasil e pude perceber os vários dilemas vivenciados por uma profissão que tem que ser exercida em um estabelecimento que vende produtos e não serviços profissionais...
 
Veja, não estou dizendo que Farmácias não deveriam comercializar produtos...Tento refletir sobre um dilema que é real...Como connstruir neste espaço a imagem de profissionalismo (que implica prestação de serviços, onde o professional é remunerado por isto), se o olhar do pacente-cliente, do regulador sanitário (Estado), do farmacêutico e do proprietário do estabelecimento, enfim de o olhar da sociedade está no produto apenas ?
 
Pergunta dificil de responder...principalmente para mim que sou apenas um professor...
 
Abraço a vc, a Manolo Machuca (que nos inspira pela sua inquietude e paixão pela AF), Dra. Belém Cobian, Dra. Flor Alvarez e tantos outros colegas da lista que não conheço mas que admiro pela determinação e disposição em continuar acreditando...Crescemos e avançamos nas diferenças
 
 
Prof. Wellington Barros da Silva (Farm.M.C.Farm.)
Assessor da Pró-Reitoria de Graduação - PRG
Unidade de Apoio Didático-Educacional - UADE
Universidade Católica de Brasilia - UCB/UBEC
Tel: (61) 3356-9183
 

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